quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sede


A professora Eliana Lúcio nasceu em 1961, em Arroio Grande/RS, onde, nos dias de chuva de sua infância, viu germinar sua grande paixão, a fotografia. A caixa de fotos da família, santo remédio encontrado pela mãe para aquietar a menina de suas traquinagens, não foi motivo, portanto, para que Eliana, licenciada em Artes Plásticas e admiradora da maestria dos construtores, aquietasse a alma ou estancasse a criatividade de sua mente. Residindo em sua cidade natal, aproveita-se da privilegiada claridade de seus rincões para gravar belas imagens dos mundos que abundam de suas vivências.

Do ir e do vir


tu, de prometido, tiveste em torno
das tantas vezes em que as madeixas
que me deixaste, se não reluzindo a essência que clamei,
tornavam a transcender queixas sobre ti

tornavas, ainda que se levando pelo deslumbre
de um tempo que não havia, a inércia, de tal
modo revigorada nas mãos que me seguram,
como as minhas seguravam laços desfeitos no teu ombro,
a eterna razão de tombos que caí

por quê?

temias muito, muito mais do que o oposto
de um prometido levado, a esplêndida que seria
paixão, despertar de fantasia, sentida sobre
mãos que não as tuas, seios que não os teus
afugentados em sonhos que nem meus seriam...

porque se dizia, que mesmo não cumpridas as
compridas e vagas impossibilidades seculares
de que tanto te lembras, pelas quais tanto vagaste
não suprimi o mais singelo pacto, outrora selado
o de amar-te, mesmo não sendo amado.

Lucas Langie Pacheco tem dezoito anos, é pelotense e bacharelando em direito. Interessa-se em tudo que o ser humano produz, mais no sentido daquilo que faz do que no daquilo que cria. Por vezes escreve, por outras não.

terça-feira, 16 de abril de 2013

"na prisão do ar"


Alexandre Neutzling nasceu em Canguçu/RS, no ano de 1980. Mora em Pelotas, onde graduou-se em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, na Universidade Católica de Pelotas. Atua como fotógrafo profissional, em trabalhos como: Books, Eventos, Recepções, Aniversários, Fotos Artísticas, Fotos Publicitárias e Ensaios Fotográficos.

Eu Vivo Em Voz e Poesia

Ofuscou-se a luz da lua
Que era espelho dos teus olhos
Dando tom à madrugada...
Ganhei distância e estrada
Perdi encanto e carinho...
Outra vez, sangrei o espinho
Outra vez, rumei ao nada.

Quebrou-se a voz da guitarra
Agora, já recostada
Entristece junto ao ninho...
- Será que errei o caminho ?
(Te procuro no que fiz)
E se o meu sonho te quis
Por quê me vejo sozinho ?

Até pensei, por momento
Indagar o céu escuro
Sobre o que tento entender...
Se meu destino é sofrer
...eu que tanto plantei flores...
Vejo que brotaram dores
E a ferida irá crescer.

Minha janela, fechada
Talvez, traduza o que sinto
Em sua devida moldura...
Rascunho não é figura,
Memória não é saudade...
E quem mente a realidade
Se realiza em alma impura.

Quem diria, até a Roseira
Desbotou, com face estranha
Pois, soube do acontecido...
Ficou o olhar esquecido,
A flor pela primavera...
E quem pensou que algo era
Apenas pensou ter sido.

Deste jeito, anda vazio
Meu jardim de inquietudes
Com folhas secas, sem dono...
Mas me estranha ver o trono
Sem exaltar sua rainha...
- Sou feito as folhas sozinhas
(Ainda nem chegou o Outono).

A voz já se faz escassa
O jardim segue vazio
- Se apresenta a solidão...
Me atinge a voz da emoção
N’outro verso ao desamor
Prevendo se teu sabor
Vai tocar meu coração.

Pouco tempo, muita insônia
Neste silenciar errante
Contemplado de sereno...
Por mais que o poema pleno
Demonstre certa beleza,
Ele esconde estas tristezas
Que ganhei do teu veneno.

Eu pensei ser covardia
Descrever tudo que sinto
Nas linhas - meu terno leito -
Mas dou-me conta e aceito:
- Quem irá saber, donzela
Se dormes quieta ou vais bela
Mostrando aos outros teu jeito ?

Pelas ruas da cidade
Hei de transcorrer, num sonho
Mesmo que seja acordado...
Quem me dera, este mandado
Soubesse meu despertar
Me fazendo te encontrar
Dia a dia, lado a lado.

Ah! É mais doída a ausência
Pelas mãos madrugadeiras...
- Será que não se dá conta ?
Ela sempre me desmonta
Quando se achega – daninha –
Ela sempre vira minha
Quando a poesia conta.

Talvez, me escutes, donzela...
Mesmo afastada do berço
Que me prende às incertezas...
Exponho as cartas na mesa,
Te revelo a minha proposta...
Depois me conta se gostas
Mas me escutes, com clareza:

- Há folhas secas no pátio
Varrendo sorrisos breves
Que enganam outros tantos...
O silêncio engole o pranto,
A Roseira (quase morta)
Também implora a tua volta...
Assim, brotará, eu garanto !

Horas vão, horas passam
Ânsias chegam, ânsias longas
Que já não sei devolver...
Dizem que é simples não ver
Procurar-se em outro alguém
Mas o que os olhos não vêem
O coração vai saber.

Logo, o breu será completo
Até a cor de um dia novo,
- Do restante, nada sei.
Tanta coisa versejei
E no final deste vício
Prossigo o mesmo do início
Quando o teu adeus guardei.

Atendo o aviso d’alma
- Relutar, de pouco adianta
Pra quem nem lembra meu riso...
A poesia, eu eternizo
Tua lembrança, junto dela
Assim que eu voltar, donzela
Saberás do que preciso.

Finda o verso, finda a prece
Derramada com desejos
Sobre os lábios da magia...
Tu soubeste o que eu queria
E mesmo estando tristonho
Te entrego o beijo num sonho
Pois vivo em voz e poesia.

Matheus Costa Borges nasceu em 1995, na cidade de Dom Pedrito. Cursa o último ano do ensino médio. Começou a escrever aos 12 anos, foi uma coisa que surgiu bem natural, por intenção própria. Acredita que o maior bem de quem se atreve a escrever é poder dar conforto à própria alma no 'silêncio falante' que a poesia oferece.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Deserto de luz


Marcela Soares Rodrigues nasceu em Arroio Grande/RS, em 1985, mas reside em Pelotas/RS. É cantora, instrumentista e compositora,e estuda Comunicação Social. Obtidas por meio de câmera de telefone celular, suas fotos publicadas neste periódico integram um projeto de experiência em fotografia com mídias alternativas

Sem saída

Teu corpo
Extensão do meu vício
Caloroso artifício
Onde deito a minha insignificância

Essa ânsia
Estancada por tua presença
Queima com o fogo da inclemência
Subindo as paredes do quarto

E eu farto
Por não me conhecer direito
Entrego a ti o meu peito
E as rédeas da minha vida

Sem saída
Assim eu quero ficar.



Natural de Caçapava do Sul/RS, Daniel Moreira reside em Pelotas/RS desde 1996. Em 2009 publicou seu primeiro livro de poesias chamado "Poemas Urbanos". Foi coordenador por onze edições do Projeto Sarau Poético Musical da Bibliotheca Pública Pelotense. Faz parte do núcleo Poesia no Bar, projeto que distribui poemas de autores locais e regionais em marca-textos pelos bares de Pelotas. Mantém o blog Poemas Urbanos (http://poemas-urbanos.blogspot.com.br/) onde posta com frequência seus escritos mais recentes. Escreve na Revista Samizdat (www.revistasamizdat.com) todo o dia 5 de cada mês além de fazer parte da equipe da Revista Seja - Poesia e Literatura (http://revista-seja.blogspot.com.br/).