quinta-feira, 14 de março de 2013

Sincero Pranto de Um Prisioneiro das Varas

Retumba um casco na pedra...
E lembro que há tanto tempo, não sinto o puro do vento
Roçar na franja tordilha...
Sinto o peso de outra carga, que me toca carregar
Com destino pra entregar, mas sem visão de retorno...

Em minha volta, o concreto faz silêncio no caminho...
Eu sigo, bem mais sozinho...
Ao olhar destes estranhos, que nem reparam os lanhos
Sobre meu couro estradeiro..
- Só mais um flete cargueiro, só mais um simples vassalo...

Serei vassalo, senhor ? Eu que carreguei, nos tentos
O teu singelo sustento, que te faz vivo à este mundo...
Eu que tive o suor das horas, eu que conheci a espora
E a dor que sempre me implora, cobrando pressa e coragem...

Talvez seja prisioneiro das varas desta carroça...
Eu que, quando ainda potro, sonhei galopes nas várzeas
Pisei o pasto nativo, e tive guarida ao campo
Eu que nunca pedi tanto, agora sobre esse pranto
Demonstro à ti, meus motivos...

Eu fui cavalo do pampa...
Retocei nos mananciais, conheci os sumidouros
Fugi das rusgas de touro, aprendendo onde cruzar...
Desde cedo na tropilha
Pensava que as tuas encilhas seriam a pior prisão
Até tocar outro chão, não mais campo e claridade
Sou cavalo da cidade, troteando em troca de pão...

Então soube que as mangueiras não eram o pior destino
Que o afago repentino de quem me estendeu o braço
Não me roubaria espaço, se continuasse no campo
- Retorno ao triste do pranto. Estoura um mango no espaço...

Por quê será que tu, homem, guardas o ego maior
E só pensas ser melhor, sem reparar teu igual ?
Por quê me tiraste o freio, e me largaste na rua
Sob a luz branca da lua, bastereado e sem buçal ?

Perdi a conta da idade, mas vejo que passou muito...
Ainda julgam-me escravo e de instinto irracional...
Destopeteado, sem Norte, buscando o rumo da sorte
Ou o desaviso da morte, pra voltar a ser bagual...

Talvez, a estrada que vim, se mostre aqui, novamente
E eu veja o campo por frente, me cabresteando - qual filho -
Me desapertem o lombilho, tirem-me o freio... Assim seja !
Me vou, pisando carquejas, pra o velho cocho de milho...

Ouço o relincho dos outros, como em chamado presente
Pra que o silêncio latente, se quebre e eu não sinta a espora...
Vejo o templo lá de fora, com saudade de outros planos
E mostro à ti, ser humano, que cavalo também chora !

Logo, retorno - silente - ao atual berço que habito...
Ouço batidas e gritos, sigo extraviado ao sentir
Peço que possa surgir, boa consciência pra tantos...
- Cavalo é filho do campo, de onde não deve partir !



Matheus Costa Borges nasceu em 1995, na cidade de Dom Pedrito. Cursa o último ano do ensino médio. Começou a escrever aos 12 anos, foi uma coisa que surgiu bem natural, por intenção própria. Acredita que o maior bem de quem se atreve a escrever é poder dar conforto à própria alma no 'silêncio falante' que a poesia oferece.

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