segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Buçais no mar

Quem diria que eu um dia te encontraria assim,
companheiro, amigo meu, irmão
nesse estado
manso, morno
encolhido no colo da nossa Mãe

Tu, que me pateavas rebentações
e dos mesmos tirões repuxavas minhas pernas
pro teu entorno
pra no teu corcovear eu morrer ao me salvar,
tu me ensinaste do desejo
a dor de recuar

Será que envelhecemos juntos?
Eu hoje faço força pra te escutar
Nem nos caracóis os teus brados soam mais!

Tu abandonas pertences ao próprio alcance
entregas tuas relíquias ao sol
já nem medes mais as forças com o vento

Domado pra seres xucro
eu te desconheço embuçalado
Quase que te odeio
Meio que me ofendo
Maldigo as fúrias que me puseste
Definho em ganas de te agarrar das crinas
e acordar às galopadas
os gigantes que adormecem dentro de mim

(Sobre o mar da praia do Cassino, que há alguns anos vem se amansando, perdendo a fúria das suas ondas)



Marília Floôr Kosby é antropóloga e poeta. Nasceu pela primeira vez em Arroio Grande/RS, em 1984. Mora em Pelotas/RS há cerca de dez anos. Publicou os livros de poemas "Os Baobás do Fim do Mundo - Trechos líricos de uma etnografia com religiões de matriz africana no sul do Rio Grande do Sul" (2011) e "Siete Colores e Um Pote Cheio de Acasos (2012). Organiza e edita o periódico Pandorgas no Paralelo 32º.

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