quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Canto Sem Fronteira

Rompeu-se o silêncio antigo
Com cantos nas tolderias
Nas primeiras melodias
De algum ritual pagão
Pra transformar-se em canção
Povoando o pampa de notas
Na nossa origem remota
Das tribos de Ibagé
Que continuam de pé
Preservando uma cultura
Pois nosso canto perdura
Nesta terra de Bagé.

Depois chegaram os padres
Novos cultos – dobram sinos
E o nosso canto genuíno
Moldou-se ao do velho mundo
Mas continuando profundo
Sonoro mas primitivo
E segue batendo estrivo
Tempo adentro – campo afora
Correndo e tinindo espora
Pra provar que ainda está vivo.

Mais adiante, aqui ouviu-se
Os clarins de Dom Diogo
Continuando o mesmo jogo
Da inconstância das fronteiras
E o zunir das boleadeiras
Falando o mesmo idioma
E a tudo isso se soma
As mazurcas e pericons
Mesclando cantos e sons
De outra rédea – mesma doma.

Seguiu-se o grito tropeiro
Abrindo estrada a peçunha
Mensageiro e testemunha
Da nossa história distante
Desbravador- bandeirante
No rumo do campo largo
Enquanto ceva um amargo
Depois que a lua se esconda
Com o mesmo canto de ronda
Neste ofício – nobre encargo.

Cruzaram os campos do sul
Milícias e montoneras
Mais que idiomas – bandeiras
Delimitando tratados
Cada um de lado a lado
Na contingência paisana
Brasileira – castelhana
É preciso que se olvide
Se a insensatez nos divide
Um poema nos irmana.

A eloqüência das palavras
Das cátedras e tribunas
Juntou-se a força turuna
Entre berros e relinchos
Quando um cantar de pelincho
Inunda o silêncio inteiro
Esse é o meu canto campeiro
É esse o canto que trago
Esse é o timbre do meu pago
Mais puro e mais verdadeiro.

E por fim – aqui estamos nós
Com o compromisso moral
E a bagagem cultural
Do tamanho do universo
Tentando expressar num verso
A nossa saga campeira
Sem cor de lenço ou bandeira
Só a gaúcha trajetória
Querendo cantar a história
Neste Canto sem Fronteira.



Eliezer Dias de Sousa nasceu em Bagé/RS, cidade onde ainda mora. É professor aposentado da Universidade da Região da Campanha, compositor, poeta e apaixonado pelo universo da vida campeira.

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